StudioShantYoga

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

SABEDORIAS DA LENTIDÃO


Silvia Helena Alves de Oliveira


                                                               “Inteligente é quem outros conhece,
                                                                Sapiente é quem conhece a si mesmo.
                                                                Forte é quem outros vence,
                                                                Poderoso é quem domina a si próprio.”
                                                                                                     (Lao Tsé).
      Inicialmente, podemos observar no cotidiano da grande maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades, a tendência de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e fazê-las de forma acelerada. Com a tecnologia da comunicação instantânea e virtual, cultiva-se a pressa.
      Muitas vezes nos encontramos em situações que demandam rapidez, porém nos enganamos ao acreditar que para algo ser bem feito, temos de estar acelerados e tensos internamente. Essa se tornou uma cultura nos tempos modernos e exige de nós consciência. Esse modo de fazer as coisas é uma deformação. Tornada um hábito, ela adoece a todos cada vez mais.
      O yoga propõe a atenção ao momento presente e a conquista gradual do autoconhecimento do corpo, respiração, mente e espírito.  O que se traduz em respeito aos próprios limites e também aos limites do próximo. No Hatha Yoga notamos o ensino e cultivo desses conhecimentos em vários aspectos, como, por exemplo, durante os asanas (posições de yoga), pelos quais praticamos a permanência:
- na posição em si;
- na atitude de presença (estar por inteiro no aqui e agora);
- no respeito aos próprios limites, levando em consideração a sua história corporal, sem comparar-se com outros;
- na consciência da respiração etc.
      Devemos estar atentos ao nosso modo de encarar a nossa vida e consequentemente a prática de yoga. Se nos deixamos impregnar pela cultura da “correria”, vendo vantagem em ser apressado, podemos trazer esses valores para todos os âmbitos da vida. E isso sem nos dar conta, quando menos esperamos.
      Se olharmos à nossa volta, vamos enxergar essa “atitude apressada”, de disputa, competitividade e desrespeito em muitos momentos. No trânsito, no relacionamento com os demais no ambiente familiar, profissional, escolar etc. Na verdade, é bem fácil notar esses comportamentos na vida social, fora de nós.
     Se prestarmos mais atenção, veremos que nós mesmos agimos de acordo com o padrão da pressa. E como podemos tomar consciência dessas atitudes e agir de maneira mais saudável? As mudanças, para serem efetivas precisam começar individual e internamente.   
      O primeiro passo é reconhecer os próprios erros, as suas tendências e intenções. Depois, é preciso “brecar” a vontade invertida. Um caminho é a meditação, que, no Hatha Yoga, costuma vir depois de um preparo feito através de exercícios psicofísicos e respiratórios, que envolvem também o relaxamento. Ao meditar, o praticante procura um espaço entre os pensamentos, faz um esforço para não conversar com eles. Desse modo, evita que os pensamentos ganhem volume e, por assim dizer, tomem conta da cena interior. Dar atenção a uma coisa por vez exige esforço, assim como todas as atitudes que podem trazer benefícios. Não se iluda: fazer o bem (para si e o próximo) não flui naturalmente. É necessário esforçar-se.
     O treino ajuda muito. É possível treinar maneiras de se concentrar em uma atividade por vez, desfazendo o excesso de tensão interna. No processo de autoconhecimento, a consciência vem primeiro. Em seguida, vem a força de vontade. Na prática, o yoga oferece instrumentos que nos ajudam nesse desafio.

MEDITAÇÃO
                      “Coisas que nos parecem impossíveis, só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica”.
                                                                                           (Mahatma Gandhi )

      O Hatha Yoga oferece a meditação, uma excelente estratégia para treinar o “músculo da atenção”. Em geral, as técnicas meditativas são extremamente simples. Existem centenas delas, até mesmo as que devem ser realizadas em movimento. É desejável que o estado meditativo permeie a prática do yoga, como um todo, desde os preceitos éticos, os Yamas (disciplina externa) e os Nyamas (disciplina interna) até os asanas (exercícios psicofísicos) e os pranayamas (exercícios respiratórios), além do pratyahara (abstração dos sentidos) e do samyama (yoga mental). [Saiba mais sobre  Yamas e Nyamas acessando esse tema na postagem http://studioshantyoga.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=5].
 E podemos afirmar que essas técnicas são tudo, menos tediosas. Uma delas certamente se encaixa no seu perfil.
A meditação não é...
A meditação é...
...religião, filosofia, prática mística ou paranormal.
...uma prática que pode levar a estados alterados de consciência, produzindo efeitos de profundo relaxamento.
...uma atividade difícil, passiva e tediosa.
...uma prática que implica o uso de técnicas que, em geral, são extremamente simples.
...uma técnica para dormir.
...uma prática que traz, entre os seus benefícios, a melhora da qualidade do sono.
...uma atividade que traz desconforto.
...uma prática que, como qualquer outra, deve ser salutar e prazerosa. Se não for assim, devemos procurar outra atividade que seja melhor para nós.

      Se a meditação altera as ondas cerebrais, a química do sistema nervoso também é modificada, com consequências para todo o organismo. A ciência vem divulgando muitos artigos que comprovam os benefícios para a saúde humana decorrentes da prática meditativa. Entre os efeitos positivos da meditação, podemos citar:
      - Queda da pressão arterial em hipertensos e redução da dependência de drogas (West, 1979, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      - Alívio da dor crônica (Canndill et al., 1991, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      - Redução dos escores da ansiedade em 20 d0s 22 pacientes portadores de ansiedade estudados após 8 semanas de prática meditativa (Miller, 1995, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      Uma forma de permanecer nesse estado contemplativo de simplesmente estar presente é não conversar com os pensamentos, não dar continuidade a eles, encarando-os como nuvens que passam, sem apegar-se a nenhum deles. Nesse ponto, podemos notar que, entre tantos pensamentos indo e vindo, surge um espaço silencioso que não se mistura com eles.
      Se precisar de um pensamento de pano de fundo, pode escolher uma frase curta e de grande significado pessoal. Uma que gosto muito e sugiro é a frase do Professor Hermógenes: “Entrego, confio, aceito e agradeço.”
      Uma maneira de praticar meditação é sentando-se da maneira mais confortável possível, mantendo a coluna alinhada de forma natural. Pode ser num dos asanas tradicionais do Hatha Yoga, como por exemplo:
· Sukhâsana ou postura fácil:
Sente-se com as pernas unidas e esticadas. Utilizando as mãos, flexione a perna esquerda e leve o pé para baixo da perna direita. Em seguida flexione a outra perna e leve o pé direito para baixo da perna esquerda. Conserve o tronco na vertical.


· Padmâsana ou postura de lótus:
Sente-se com as pernas unidas e estendidas. Leve o peito do pé direito a pousar sobre a coxa esquerda, de forma que a sola do pé fique voltada para cima. Depois, faça o pé esquerdo pousar sobre a coxa direita. Ambos os joelhos tocam o solo e apontam para frente. Os calcanhares pressionam o abdômen logo acima da região pubiana.


· Varjrâsana ou pose do diamante:
Ajoelhe-se conservando os joelhos juntos e os pés esticados, de forma que a pernas se apoiem no solo. Os dedos dos pés ficam apontados para dentro e quase se tocam.
Sente-se sobre as pernas, mantendo a cabeça alinhada e a coluna ereta, sem rigidez.



      É importante estar na atitude interna que um asana propõe, isto é, firme e confortável. Se por qualquer motivo, não sentir estabilidade e conforto sentado na almofada sobre o chão, sente-se em uma cadeira, banco ou poltrona que lhe proporcione estar com a coluna alinhada, como diz a canção do Walter Franco “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.
      Concluindo, podemos perceber a realidade que nos cerca vem construindo seres desconexos e estressados e estes, por sua vez, formam uma sociedade apressada e doente. O yoga e suas práticas meditativas se apresentam como um excelente caminho para harmonizar a rapidez, que é uma virtude, com as sabedorias da lentidão, que podem ser vivenciadas na reconstrução de um ser humano mais lúcido. Assim, é possível administrar e perceber o vício da pressa e notar o preço que ela nos cobra ao nos impedir de desfrutar a felicidade que a vida é capaz de nos oferecer.

Referências bibliográficas disponíveis em:
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. De olho na saúde – O ABC da psicossomática trilógica. 1.ed. São Paulo : Proton Editora, 2007. p. 21, 67, 68

Pustilnick, Renato. Administração do estresse = qualidade de vida: dicas para uma vida saudável e produtiva. Curitiba : Ibpex, 2010. Biblioteca digital Centro Universitário Claretiano

<http://yogahermogenes.blogspot.com.br/search/label/Medita%C3%A7%C3%A3o%20Antidistresse> acesso em 07/06/2014



domingo, 9 de março de 2014

OS CINCO MOVIMENTOS DA COLUNA E SEUS BENEFÍCIOS

“Não sacrifique o instinto do corpo pela glória da postura.”
                                                                                                      Vanda Scaravelli


      Através da realização dos cinco movimentos que a coluna pode fazer adquirimos mais saúde, flexibilidade e autoconhecimento. Mas, para que o ganho seja real, consistente, esses movimentos devem realizados com atenção e, principalmente, com consciência. No Hatha Yoga, os cinco movimentos fazem parte de um amplo contexto, pelo qual buscamos o entendimento prático de como respirar, como pensar, como ajustar e alinhar-se nos asanas (posições). Sendo assim, a consciência precisa estar em cada movimento.

      Vamos então olhar mais de perto para cada um dos cinco movimentos:

Flexão da coluna. Nos exercícios que têm esse objetivo – a flexão da coluna –, nós inclinamos o tronco para frente ou aproximamos o tronco das coxas. Desse modo, alongamos os músculos posteriores do corpo. Veja, na figura a seguir, uma das posturas que realizam esse tipo de flexão.


Balasana
Posição da Criança, Posição do Embrião
bala = jovem, infantil, não totalmente desenvolvido



Extensão da coluna. Nesses exercícios, inclinamos o tronco para trás ou, simplesmente, distanciamos o tronco das coxas, para alongar os músculos anteriores do corpo. O exercício representado a seguir é um bom exemplo.


Bhujangasana
Posição da Cobra
bhuja = braço ou ombro + anga = membro

Inclinação lateral da coluna. Aqui, o corpo se inclina lateralmente com relação a seu eixo, alongando os músculos laterais. A figura a seguir ilustra a inclinação lateral.


Parivrtta Janu Sirsasana
Posição Inversa da Cabeça no Joelho
parivrtta = virar, rolar; janu = joelho; sirsa = tocar com a cabeça

Torção ou rotação da coluna. Com esses exercícios, o corpo gira em seu próprio eixo, alongando a maioria dos músculos do tronco. Veja o exemplo.


Ardha Matsyendrasana
Meia Posição do Rei dos Peixes
ardha = metade matsya = peixe indra = governante, rei

• Extensão axial. Através de um esforço interno, podemos realizar o quinto movimento da coluna, que busca reduzir, por meio da intenção e da postura, as curvaturas primárias e secundárias que sempre existem quando estamos displicentes. Com essa prática, é possível favorecer a ampliação do espaço entre as vértebras, alongando o comprimento total da coluna. Durante as aulas, para estimular o aprendizado desse movimento, costumo convidar os meus alunos a se lembrarem de um “fiozinho puxando no alto da cabeça”. E é isso mesmo. Imaginando com firmeza que temos um fio nos puxando para o alto, em linha reta, nós nos dedicamos com mais consciência ao esforço da extensão axial. É como se vencêssemos a força da gravidade. A fotografia a seguir mostra um exemplo de extensão axial, que podemos realizar mesmo quando estamos sentados.


Sukhasana
Posição Fácil
sukha = confortável, suave, agradável

      O quinto movimento da coluna merece especial atenção. Ele pode ser utilizado em variados momentos da prática de yoga. É assim quando nos sentamos para meditar e fazer exercícios respiratórios. Basta observar: tudo flui de forma mais favorável quando estamos com a consciência empenhada em manter a coluna alinhada. Se estamos conscientes do “fiozinho puxando no alto da cabeça” é possível descontrair as curvaturas normais da coluna e, desse modo, diminuir a chance de cansaço e de lesões e à estrutura do esqueleto. Ganhamos mais elasticidade.


      Outro segredo para sentar-se bem é colocar uma almofada ou um cobertor dobrado embaixo das nádegas. Esse recurso nos permite elevar a base da coluna, o que compensa a flexibilidade limitada e restaura a curvatura natural.



      Entendendo como realizar esses movimentos com a sua coluna, você poderá ter autonomia em sua prática de yoga e montar suas próprias sequências. Nesse momento, além dos cinco movimentos, leve em consideração outras posturas possíveis do corpo:  em pé, sentado, deitado ou as chamadas posições invertidas (quando as pernas ficam para o alto, acima da cabeça). Na imagem a seguir, podemos visualizar, além dos cinco movimentos, a representação de posições de equilíbrio, inversão, relaxamento e meditação (de manter a coluna sempre estendida, em linha reta).


      Com a prática é possível notar e “pontuar” combinações de vários movimentos da coluna em uma única posição, como na figura abaixo em que notamos os movimentos específicos da coluna vertebral de extensão neutra e rotação axial e visualizamos e principalmente ao praticar, vivenciamos, os movimentos de flexão, torção, latero-flexão, sem abrir mão da intenção (consciência) da extensão axial.


Parivrtta Trikonasana
Posição Invertida do Triângulo
parivrtta = virar-se, inverter; tri = três; kona = ângulo


      Conclusão
      Conhecer, entender e vivenciar os cinco movimentos que a coluna pode realizar facilitará sua autonomia na prática de yoga.
      As posições de flexão (curvar-se para frente) estimulam a digestão, aumentam a flexibilidade dorsal e acalmam o organismo.
      As posições de extensão (curvar-se para trás) promovem maior mobilidade e flexibilidade da coluna, pois, quando alongamos, expandimos a região torácica, o que é muito revigorante.
      As posições de torção ajudam na digestão, na eliminação de toxinas e tonificam a coluna vertebral.
      Quanto às posições invertidas, elas estimulam o sistema endócrino e melhoram a circulação.
     
      Por fim, é bom lembrar que as orientações que você encontrou neste breve texto não substituem um professor. O objetivo destas orientações é apenas esclarecer dúvidas e inspirar o aluno em sua prática pessoal. Conhecendo e entendendo, todos os praticantes de yoga avançam na conquista da autonomia e ganham mais consciência.
      O ideal é realizar, além dos cinco movimentos da coluna, as práticas completas, incluindo exercícios psicofísicos e respiratórios, além de relaxamento e técnicas de meditação e concentração.
      Embora o Hatha Yoga seja conhecido no Ocidente como yoga do corpo, deveríamos pensar nele como o yoga através do corpo, uma vez que, em sua visão holística, o Hatha Yoga propõe a integração dos aspectos internos (psíquico e espiritual) por meio do aprimoramento dos aspectos externos (físicos). Portanto, através do corpo como instrumento, podemos desenvolver as dimensões mais sutis da nossa vida. 

Referências bibliográficas:
SILVA, Gerson D’Addio da. Curso Básico de Yoga: teórico prático. 1 ed. São Paulo: Grecco e Mello, 2007. p.206, 207
MASSOLA, Maria Ester Azevedo. Vamos praticar yoga?: Yoga para crianças, pais e professores. São Paulo: Phorte, 2008. p.76, 77
KAMINOFF, Leslie. Anatomia da Yoga. Barueri, SP: Manole, 2008. p. 30, 31, 72, 83, 92, 100, 168
ANDERSON, Sandra; SOVIK, Rolf. Yoga: dominando os princípios básicos. São Paulo: Madras, 2013. p. 265, 266, 267 
<http://studioshantyoga.blogspot.com.br/2010/12/principios-para-composicao-de-uma-serie.html> acesso em 06/02/14
<http://www.yogapelapaz.com.br/blog/?p=1546> acesso em 16/02/14
<http://www.yoga.pro.br/artigos/911/2/como-montar-uma-serie-equilibrada-de-asanas> acesso em 16/02/14






terça-feira, 5 de novembro de 2013

PRECEITOS ÉTICOS DO YOGA E SUA IMPORTÂNCIA

    Como vimos na postagem anterior (A Consciência na prática do Yoga), o Yoga é  um sistema composto de oito partes. É como se fosse uma longa e maravilhosa caminhada subdividida em oito grandes passos. Essas partes, ou esses passos, são bem descritas no texto mais antigo que se conhece sobre o assunto, o Yoga-Sutras, escrito por Patanjali, o grande filósofo indiano do século VI a.C.. 

      Para percorrer o caminho, o praticante deve observar sempre dos dois preceitos éticos que dão sustentação a todo o sistema. Esses preceitos éticos os Yamas (disciplina externa) e os Nyamas (disciplina interna), atitudes primordiais que desenvolvem a saúde mental.

     
        Os cinco Yamas são:
        - Ahimsa: não-violência;
        - Satya: verdade / não mentir;
        - Asteya: não roubar;    
        - Brahmacharya: fazer tudo muito bem feito, o melhor que você conseguir;
        - Aparigraha: não acumular / desenvolver o desapego.
       Os cinco Nyamas são:
        - Sauca: pureza / limpeza;
        - Santosha: contentamento;
        - Tapas: perseverança / disciplina;
        - Svadhyaya: estudo;
        - Isvara-Pranidhana: caminho espiritual.
      Os preceitos éticos acima precedem os asanas (exercícios psicofísicos), os pranayamas (exercícios respiratórios), pratyahara (abstração dos sentidos) e samyama (yoga mental).



    Podemos notar pelo exposto acima que, para ser bem sucedido em sua prática de yoga, é necessário esforçar-se em desenvolver atitudes com os demais e consigo mesmo que expressem a saúde interna (psíquica e espiritual).
      São preceitos encontrados em várias épocas e culturas no mundo e por isso Patanjali os chama sarvabhauma, supremos ou universais, pois eles valem para todas as pessoas e em todas as circunstâncias.
      O que sentimos interfere no que pensamos, conhecemos, fazemos e escolhemos. Nossa psique afeta nossas atitudes. Não há como desenvolver consciência na prática do yoga (como dito anteriormente, consciência no corpo, na mente e na respiração) se não notarmos a urgência na mudança de atitudes (sentimento, pensamento ou ações) tanto pessoais quanto relacionais (sociais). O equilíbrio tão almejado demanda enxergar as atitudes doentias tomadas em relação a si mesmo, aos demais e à natureza, bem como buscar atitudes saudáveis, como praticar os preceitos do yoga.



Referências bibliográficas disponíveis em:
MASSOLA, Maria Ester Azevedo. Vamos praticar yoga?: Yoga para crianças, pais e professores. São Paulo: Phorte, 2008. p.22, 23, 27, 28, 29   
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. De olho na saúde – O ABC da psicossomática trilógica. 1.ed. São Paulo : Proton Editora, 2007. p. 7, 13, 14

<http://www.yoga.pro.br/artigos/53/1/vivendo-a-etica-do-yoga> acesso em 29/09/13


terça-feira, 30 de julho de 2013

A CONSCIÊNCIA NA PRÁTICA DO YOGA

Silvia Helena Alves de Oliveira

“A consciência está ligada ao trabalho, à ação e à descontração. A alienação produz inércia, contração, angústia.” (Norberto Keppe) 
  

      Em primeiro lugar, lembremos que onde existe consciência existe vida. Esta consciência abrange os vários aspectos do ser humano, que podemos agrupar em três núcleos de atenção da nossa consciência. Embora tratemos os três separadamente, a fim de facilitar o ensino e aprendizado, eles interagem constantemente e englobam outros. São os seguintes: 
  • Consciência do corpo 
  • Consciência da respiração 
  • Consciência da mente 
Quando o praticante de Hatha Yoga está atento à vivência dos três, encontra facilidade em se desenvolver e progredir no caminho do autoconhecimento, que se manifesta no todo. 
Da mesma forma, a sistematização e o aprendizado do Yoga seguem vários passos, mas todos esses passos estão interligados, são inseparáveis. 
Yoga é  um sistema composto por oito partes (ou uma caminhada em oito grandes passos), que estão descritas no texto mais antigo conhecido sobre o assunto, Yoga-Sutras, que foi escrito pelo grande filósofo indiano do século VI a.C., conhecido por Patânjali. 
Eis as oito partes de que nos fala Patânjali: 
      1- Aprender a viver em harmonia com os outros (yama); 
      2- Manter o corpo, a mente e o espírito saudáveis e felizes (niyama); 
      3- Praticar posturas físicas para fortalecer o corpo (âsana); 
      4- Respirar corretamente para fazer fluir a energia (prânâyâma); 
      5- Concentrar nossas forças mentais no interior do ser (pratyâhâra); 
      6- Focalizar toda a atenção em determinado objeto (dhâranâ); 
      7- Repousar em meditação profunda e natural (dhyâna); 
      8- Unir-se ao infinito (samadhi). 
As oito partes atuam em todas as áreas de nossa vida – social, comportamental, ética, moral, física, emocional, mental e espiritual. Para compreender melhor como todas essas áreas se inter-relacionam, agem umas sobre as outras, vamos nos aprofundar um pouco no entendimento daquilo a que apresentamos, logo no início deste breve texto, como nos três grandes núcleos que merecem a atenção da nossa consciência. Comecemos pela consciência do corpo. 


   CONSCIÊNCIA NO CORPO   
  
     Na linguagem do Hatha Yoga, consciência do corpo (também poderíamos dizer a consciência no corpo) indica ajuste na posição (âsana). O praticante do Yoga encontra o ajuste na posição (âsana) quando seu corpo encontra conforto e equilíbrio na postura estável, sem contrações dolorosas, sem angústias. É por isso que se diz que, ao conquistar o âsana, o yogue assume com correção natural a posição que pretendia alcançar. Aí, é desejável trabalhar os aspectos sutis (que são os internos: mente, emoções, alma) através do aspecto grosseiro (o aspecto externo, ou seja, o corpo). 
Patânjali não descreve quais são as diferentes posições (os diferentes âsanas) do Yoga, apenas conceitua que um âsana é aquela posição que deve ser estável e confortável, contemplando o relaxamento do esforço. 
Com a devida observação, o praticante de Yoga percebe como o seu corpo está no espaço. Ele percebe isso como se olhasse para um espelho interno. Sempre respeitando os seus limites, ele observa seu mestre, mas sabe que o âsana é só seu, não deverá ser comparado ao de mais ninguém. Sabendo dissoele aprende como executar o âsana corretamente, pois ele aprende os métodos de entrada, manutenção e finalização da posição. 
Essa percepção é desenvolvida através da constância, da persistência na prática atenta. Com o tempo, o praticante vai ganhando autonomia e aprende a identificar os muitos efeitos que as variadas posições de Yoga trazem ao corpo, à respiração e à mente. Dessa forma, ele sente os benefícios da prática. 

CONSCIÊNCIA DA RESPIRAÇÃO 
Analisando o sistema de Yoga, compreendemos nesse ponto, que devemos conhecer a própria respiração, entender como ela funciona. Para isso, é preciso vivenciar as várias formas de respirar. O Yoga não diz que existe somente uma forma correta de respirar. Em vez disso, ele nos ensina como utilizar toda a capacidade respiratória, de quatro formas distintas: respiração baixa, média, alta ou completa. A prática nos traz o discernimento para distinguir qual forma é a melhor para determinado tempo, lugar e circunstância. Seja durante a prática de Hatha Yoga (por exemplo, durante uma aula), seja vivenciando o Yoga em outros momentos do dia a dia, a consciência da (ou na) respiração é essencial. 
Quanto mais controle temos da respiração, mais controle temos do corpo. A exigência em uma posição (âsana) interfere na respiração. E o que buscamos durante a prática é justamente inverter esse processo. Através da respiração relaxada é possível, por exemplo, permanecer em uma posição desafiadora, adaptando-se e entregando-se, desfazendo o esforço interno. 
Quando você se conscientiza de determinada região do corpo, pode intencionalmente levar mais oxigênio, ou, melhor, pode levar mais bioenergia do ar para esse local. Você pode fazer um teste. Experimente olhar para sua mão, então feche os olhos e continue percebendo, sentindo e visualizando-a internamente. Em pouco tempo poderá sentir o calor e a vibração que emana de sua mão. É só o começo. Através da consciência, você pode interferir no fisiológico, pode incrementar a circulação sanguínea e também interferir na fisiologia sutil, desbloqueando os canais de energia. Como já mencionado, tudo depende de empenho, dedicação e prática. 
O controle do alento (da respiração), denominado prânâyâma, é uma parte essencial, indispensável para o sucesso no Yoga. É básica. Ela serve de alicerce para o aprendizado de outras técnicas.  
[Saiba mais sobre prânâyâma acessando esse tema na postagem http://studioshantyoga.blogspot.com.br/2013/05/pranayama-respirar-profundamente.html]


CONSCIÊNCIA DA MENTE

A consciência da (ou na) mente pressupõe atenção no momento presente. Ela nos ensina a cultivar o estado de presença, a estar inteiramente no aqui e agora. Nosso ser é essencialmente tranquilo e sereno, mas o ser humano, com a inversão de percepção de mundo e consequentemente com a mente inquieta, propensa a flutuar de um pensamento a outro, encontra dificuldades para aquietar-se. Exatamente por isso, nYoga-Sûtra, livro I, verso 2, Patânjali  escreve que o Yoga é a cessação dos turbilhões da consciência (Yogas citta vrtti nirodhah).  
No decorrer dos oito passos (que são partes de um sistema, de um todo) propostos por Patânjali (enumerados na introdução deste texto), encontramos a abstração dos sentidos (pratyâhara). Falamos aqui de um estágio da prática em que os sentidos se retiram dos objetos. Em seguida, a concentração em sua real acepção (dhâranâ), estágio em que se dirige toda a atenção a um único foco, levo o praticante à meditação propriamente dita (dhyâna). Aí, brota a identificação com o que se escolheu como foco de concentração. 
Uma forma de permanecer nesse estado contemplativo de simplesmente estar presente é não conversar com os pensamentos, não dar continuidade a eles, encarando-os como nuvens que passam, sem apegar-se a nenhum deles. Nesse ponto, podemos notar que, entre tantos pensamentos indo e vindo, surge um espaço silencioso que não se mistura com eles. 
Perseverando em dhyâna, o praticante pode chegar ao último estágio da prática, denominado samadhi, quando se atinge a equanimidade da consciência e, com isso, a transcendência de sua condição ordinária, permitindo a absorção do que se escolheu observar. 
Concluindo, a prática de Hatha Yoga é feita com consciência no corpo (e do corpo)da mente (e na mente) da (ou narespiraçãoEm sua visão holística, o Yoga propõe a integração e aprimoramento dos aspectos internos (psíquico e espiritual) por meio de aspectos externos (que estão no físico). Através do corpo como instrumento, podemos desenvolver as dimensões mais sutis. 




Referências bibliográficas 
SILVA, Gerson D’Addio da. Curso Básico de Yoga: teórico prático. 1.ed. São Paulo: Grecco e Mello, 2007. p.165, 166  
SINGLETON, Mark. Yoga para você e seus filhos: um guia passo a passo para a prática prazerosa de yoga com crianças de todas as idades.  São Paulo : Editora Gente, 2004.  
ANDERSON, Sandra; SOVIK, Rolf. Yoga: dominando os princípios básicos. São Paulo : Madras, 2013. p. 33, 34, 78