Silvia Helena Alves de Oliveira
“Inteligente é quem outros conhece,
Sapiente é quem conhece a si mesmo.
Forte é quem outros vence,
Poderoso
é quem domina a si próprio.”
(Lao Tsé).
Inicialmente,
podemos observar no cotidiano da grande maioria das pessoas que vivem nas
grandes cidades, a tendência de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e fazê-las
de forma acelerada. Com a tecnologia da comunicação instantânea e virtual,
cultiva-se a pressa.
Muitas
vezes nos encontramos em situações que demandam rapidez, porém nos enganamos ao
acreditar que para algo ser bem feito, temos de estar acelerados e tensos
internamente. Essa se tornou uma cultura nos tempos modernos e exige de nós
consciência. Esse modo de fazer as coisas é uma deformação. Tornada um hábito,
ela adoece a todos cada vez mais.
O yoga propõe a atenção ao momento presente e a conquista gradual do
autoconhecimento do corpo, respiração, mente e espírito. O que se traduz em respeito aos próprios
limites e também aos limites do próximo. No Hatha
Yoga notamos o ensino e cultivo desses conhecimentos em vários aspectos,
como, por exemplo, durante os asanas (posições
de yoga), pelos quais praticamos a permanência:
- na posição em si;
- na atitude de presença (estar por inteiro
no aqui e agora);
- no respeito aos próprios limites, levando
em consideração a sua história corporal, sem comparar-se com outros;
- na consciência da respiração etc.
Devemos
estar atentos ao nosso modo de encarar a nossa vida e consequentemente a
prática de yoga. Se nos deixamos
impregnar pela cultura da “correria”, vendo vantagem em ser apressado, podemos trazer
esses valores para todos os âmbitos da vida. E isso sem nos dar conta, quando
menos esperamos.
Se olharmos à nossa volta, vamos enxergar essa
“atitude apressada”, de disputa, competitividade e desrespeito em muitos
momentos. No trânsito, no relacionamento com os demais no ambiente familiar,
profissional, escolar etc. Na verdade, é bem fácil notar esses comportamentos
na vida social, fora de nós.
Se prestarmos mais atenção, veremos que nós
mesmos agimos de acordo com o padrão da pressa. E como podemos tomar
consciência dessas atitudes e agir de maneira mais saudável? As mudanças, para
serem efetivas precisam começar individual e internamente.
O
primeiro passo é reconhecer os próprios erros, as suas tendências e intenções.
Depois, é preciso “brecar” a vontade invertida. Um caminho é a meditação, que,
no Hatha Yoga, costuma vir depois de
um preparo feito através de exercícios
psicofísicos e respiratórios, que envolvem também o relaxamento. Ao meditar, o
praticante procura um espaço entre os pensamentos, faz um esforço para não
conversar com eles. Desse modo, evita que os pensamentos ganhem volume e, por
assim dizer, tomem conta da cena interior. Dar atenção a uma coisa por vez
exige esforço, assim como todas as atitudes que podem trazer benefícios. Não se
iluda: fazer o bem (para si e o próximo) não flui naturalmente. É necessário
esforçar-se.
O treino ajuda muito. É possível treinar maneiras
de se concentrar em uma atividade por vez, desfazendo o excesso de tensão interna.
No processo de autoconhecimento, a consciência vem primeiro. Em seguida, vem a
força de vontade. Na prática, o yoga
oferece instrumentos que nos ajudam nesse desafio.
MEDITAÇÃO
“Coisas que nos parecem
impossíveis, só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica”.
(Mahatma Gandhi )
(Mahatma Gandhi )
O Hatha
Yoga oferece a meditação, uma excelente estratégia para treinar o “músculo
da atenção”. Em geral, as técnicas meditativas são extremamente simples. Existem
centenas delas, até mesmo as que devem ser realizadas em movimento. É desejável
que o estado meditativo permeie a prática do yoga, como um todo, desde os preceitos
éticos, os Yamas (disciplina externa) e os Nyamas (disciplina
interna) até os asanas (exercícios psicofísicos) e os pranayamas (exercícios
respiratórios), além do pratyahara (abstração dos sentidos) e do samyama (yoga mental). [Saiba mais sobre Yamas e
Nyamas acessando
esse tema na postagem http://studioshantyoga.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=5].
E
podemos afirmar que essas técnicas são tudo, menos tediosas. Uma delas certamente
se encaixa no seu perfil.
A meditação não é...
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A
meditação é...
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...religião, filosofia, prática mística ou
paranormal.
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...uma
prática que pode levar a estados alterados de consciência, produzindo efeitos
de profundo relaxamento.
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...uma atividade difícil, passiva e tediosa.
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...uma
prática que implica o uso de técnicas que, em geral, são extremamente
simples.
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...uma técnica para dormir.
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...uma
prática que traz, entre os seus benefícios, a melhora da qualidade do sono.
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...uma atividade que traz desconforto.
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...uma
prática que, como qualquer outra, deve ser salutar e prazerosa. Se não for
assim, devemos procurar outra atividade que seja melhor para nós.
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Se a
meditação altera as ondas cerebrais, a química do sistema nervoso também é
modificada, com consequências para todo o organismo. A ciência vem divulgando muitos
artigos que comprovam os benefícios para a saúde humana decorrentes da prática
meditativa. Entre os efeitos positivos da meditação, podemos citar:
- Queda da
pressão arterial em hipertensos e redução da dependência de drogas (West, 1979,
citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
- Alívio
da dor crônica (Canndill et al., 1991, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
- Redução
dos escores da ansiedade em 20 d0s 22 pacientes portadores de ansiedade
estudados após 8 semanas de prática meditativa (Miller, 1995, citado por
Cardoso, 2005, p. 109-121).
Uma forma de permanecer nesse estado
contemplativo de simplesmente estar presente é não conversar com os
pensamentos, não dar continuidade a eles, encarando-os como nuvens que passam,
sem apegar-se a nenhum deles. Nesse ponto, podemos notar que, entre tantos
pensamentos indo e vindo, surge um espaço silencioso que não se
mistura com eles.
Se precisar de um pensamento de pano de
fundo, pode escolher uma frase curta e de grande significado pessoal. Uma que
gosto muito e sugiro é a frase do Professor Hermógenes: “Entrego, confio,
aceito e agradeço.”
Uma maneira de praticar meditação é
sentando-se da maneira mais confortável possível, mantendo a coluna alinhada de
forma natural. Pode ser num dos asanas tradicionais
do Hatha Yoga, como por exemplo:
· Sukhâsana ou postura fácil:
Sente-se com as pernas unidas e esticadas.
Utilizando as mãos, flexione a perna esquerda e leve o pé para baixo da perna direita.
Em seguida flexione a outra perna e leve o pé direito para baixo da perna
esquerda. Conserve o tronco na vertical.
· Padmâsana ou postura de lótus:
Sente-se com as pernas unidas e estendidas. Leve o
peito do pé direito a pousar sobre a coxa esquerda, de forma que a sola do pé fique voltada
para cima. Depois, faça o pé esquerdo pousar sobre a
coxa direita. Ambos os joelhos tocam o solo e apontam para frente. Os calcanhares pressionam o abdômen
logo acima da região pubiana.
· Varjrâsana ou pose do diamante:
Ajoelhe-se conservando os joelhos juntos e os pés
esticados, de forma que a pernas se apoiem no solo. Os dedos dos pés ficam apontados
para dentro e quase se tocam.
Sente-se sobre as pernas, mantendo a cabeça
alinhada e a coluna ereta, sem rigidez.
É importante estar na atitude interna que
um asana propõe, isto é, firme e
confortável. Se por qualquer motivo, não sentir estabilidade e conforto sentado
na almofada sobre o chão, sente-se em uma cadeira, banco ou poltrona que lhe
proporcione estar com a coluna alinhada, como diz a canção do Walter Franco
“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração
tranquilo”.
Concluindo, podemos perceber a realidade que
nos cerca vem construindo seres desconexos e estressados e estes, por sua vez, formam
uma sociedade apressada e doente. O yoga e suas práticas meditativas se
apresentam como um excelente caminho para harmonizar a rapidez, que é uma
virtude, com as sabedorias da lentidão, que podem ser vivenciadas na
reconstrução de um ser humano mais lúcido. Assim, é possível administrar e perceber
o vício da pressa e notar o preço que ela nos cobra ao nos impedir de desfrutar
a felicidade que a vida é capaz de nos oferecer.
Referências
bibliográficas disponíveis em:
PACHECO, Claudia Bernhardt
de Souza. De olho na saúde – O ABC da psicossomática trilógica. 1.ed. São Paulo : Proton Editora, 2007. p. 21, 67, 68
Pustilnick,
Renato. Administração do estresse = qualidade de vida: dicas para uma vida
saudável e produtiva. Curitiba : Ibpex, 2010. Biblioteca digital Centro
Universitário Claretiano
<http://yogahermogenes.blogspot.com.br/search/label/Medita%C3%A7%C3%A3o%20Antidistresse>
acesso em 07/06/2014