StudioShantYoga

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segunda-feira, 23 de abril de 2012


Prática da ioga traz benefícios afetivos e cognitivos, aponta estudo brasileiro
Para quem pratica ioga, memória de longo prazo melhorou 20% e houve redução do estresse

ESTADAO.COM

Um estudo científico brasileiro mostrou que a ioga traz benefícios cognitivos e afetivos palpáveis para quem a pratica.

O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), preenche uma lacuna nos estudos sobre o impacto neuropsicológico da ioga. A maioria carece de controles adequados que garantam o rigor ou a aplicação universal dos resultados (mais informações nesta página).

Diferentemente do que ocorreu nas outras pesquisas, desta vez os pesquisadores escolheram voluntários saudáveis que não praticavam ioga. Eles foram recrutados no Batalhão Visconde de Taunay, do Exército, em Natal (RN).

Os cientistas conseguiram autorização do coronel Odilon Mazzine Junior para realizar uma atividade atípica para o grupo de 17 soldados que participaram do estudo: ao longo de um semestre, eles praticaram uma hora de ioga, duas vezes por semana.

Outros 19 militares não participavam das aulas e serviram como grupo de controle. Isso é importante para que os resultados do grupo que praticou ioga possam ser comparados.

A coordenadora do estudo Regina Helena da Silva, do programa de Pós-graduação em Psicobiologia do Centro de Biociências da UFRN, pratica ioga há cerca de uma década, mas nunca tinha colocado o exercício sob a lente da psicobiologia, sua área de pesquisa.

Animou-se, no entanto, quando o biólogo Kliger Kissinger Fernandes Rocha pediu que ela o orientasse no doutorado do programa. Rocha é professor de ioga e reconhecia as limitações dos estudos sobre o tema. Por isso, sugeriu abordá-lo em uma tese. O trabalho, publicado na revista científica Consciousness and Cognition, é fruto desse interesse.

Os militares foram avaliados no início e no fim do estudo. Foram aplicados testes de memória e formulários para averiguar o nível de estresse e outras condições psicológicas, bem como testes fisiológicos.

"Notamos uma melhora de 20% na memória de longo prazo nos militares que praticaram ioga", afirma Rocha. "É um porcentual que indica um considerável ganho cognitivo."

Ele recorda que também houve uma diminuição no nível de estresse. "O cortisol (hormônio associado ao problema) presente na saliva diminuiu 50% no grupo da ioga", recorda o pesquisador, que aos 14 anos recebeu indicação médica para praticar ioga com a finalidade de atenuar as raízes psicológicas de uma gastrite nervosa.

Como não houve alterações significativas no grupo de controle, os pesquisadores descartam a atribuição da melhora aos exercícios físicos. Isso porque o grupo de controle realizava até mais exercícios do que o que se dedicou à pratica da ioga.

Mistério. Os cientistas afirmam que os mecanismos neurofisiológicos responsáveis pela melhora cognitiva e afetiva ainda são desconhecidos.

"Trabalhamos com a hipótese de que a meditação na ioga melhora a capacidade de concentração", explica Regina. "Contudo, a diminuição do estresse também poderia explicar a melhora dos resultados nos testes que avaliaram a memória."

'Exercício ensina a permanecer sereno e positivo diante da vida'
"Há mais ou menos um ano, decidi que era hora de pôr em prática alguns dos conselhos mais recorrentes sobre a manutenção de uma boa saúde. Estava sedentária havia algum tempo e fazer ioga me pareceu uma boa alternativa para cuidar tanto da parte física como da mental. Dois coelhos com uma cajadada só. E ainda seria poupada dos ambientes tão chatos das academias.

Os primeiros efeitos que senti foram os físicos: mais força nos braços, pernas, abdome e costas. Ao contrário do que comumente se imagina, a aula de ioga não consiste só em respirações, mantras, relaxamentos e alongamentos. A resistência física e a força muscular são exigidas ao máximo e o aluno é estimulado a se superar, sempre respeitando seus limites.

Tanto é que, a partir da segunda aula, passei a levar comigo uma toalhinha para enxugar o suor do rosto. Foi nesse esforço pela superação que, quase sem perceber, comecei a exercitar também o controle sobre a mente. Afinal, como diz meu professor, a mente se cansa antes do corpo. Se conseguirmos controlá-la, ela vai permitir que nosso corpo nos leve aonde queremos chegar.

E assim as posições que antes pareciam impossíveis iam sendo alcançadas pouco a pouco: a invertida sobre a cabeça (sirshássana), por exemplo, foi minha última conquista.

Dizem que esta posição traz benefícios para o sistema circulatório e promove um aumento da oxigenação do cérebro. Pode ser também que o fato de ver o mundo de cabeça para baixo por alguns minutos ajude a ter uma perspectiva diferente da realidade.

No aspecto emocional, a ioga ensina a permanecermos serenos e positivos diante da vida e a respirarmos da maneira correta mesmo nos momentos de estresse. Nos ensina que o equilíbrio é sempre a melhor solução. Daí até pôr tudo isso em prática, ainda é um longo caminho que estou só começando a percorrer."

CONCENTRAÇÃO MELHORA, DIZEM PRATICANTES
Eles também afirmam que, com a ioga, passaram a ter maior controle emocional

Os benefícios da prática da ioga ligados ao cérebro estão entre os principais motivos que levam as pessoas a se interessar pela modalidade.

A afirmação é do professor de ioga José Luiz Jabali Corradi, de 41 anos. Para ele, os resultados do estudo desenvolvido no Instituto do Cérebro não são surpresa, mas algo que já é observado no dia a dia dos praticantes.

"O primeiro objetivo da ioga é ativar o cérebro. Isso é feito durante a aula por meio da respiração, da concentração e das mentalizações", explica.

Corradi lembra que a ioga funciona como uma preparação para a meditação: o alongamento, a estabilidade e a resistência física treinados na prática são essenciais para os que pretendem permanecer sentados e imóveis durante alguns minutos para meditar.

"O aluno vai ter mais facilidade para meditar no fim da prática de ioga. Como já passou a respirar corretamente, alongou-se, acalmou-se e se cansou um pouco também, a mente e o corpo estão mais tranquilos e preparados", diz.

Consequências. Entre os praticantes de ioga, os efeitos mentais mais citados são o aumento da concentração e o maior controle emocional.

A relações públicas Maria Lúcia Vieira de Carvalho Zaidan, de 26 anos, começou a frequentar aulas de ioga há três anos. Um dos principais motivos que a estimularam a trocar a academia pela ioga foi a questão do autocontrole abordado nas aulas.

"A mente fica mais calma, você passa a se policiar mais no dia a dia para respirar, para organizar a cabeça e, principalmente, fazer com que você saiba o que está pensando." Para ela, isso é o mais importante: prestar atenção em si próprio.

Já a arquiteta e artista plástica Verônica Dubin, de 40 anos, conta que as principais diferenças que sentiu depois que começou a praticar ioga foram em relação ao aumento da flexibilidade e do tônus muscular.

Além disso, ela também se tornou uma pessoa mais calma. "Sinto que você consegue disciplinar sua mente em horas de estresse. É a prática da ioga não só física, mas mental", diz.

Corradi diz que grande parte dessa calma relatada pelos alunos vem da respiração correta. "Primeiro, é preciso levar o ar ao lugar certo. Se estou usando só 10% da capacidade do pulmão, vou ter de acelerar muito. É como uma fábrica funcionando várias vezes para produzir pequenas quantidades de energia."

Quando se aumenta a capacidade respiratória, segundo ele, aumenta-se a circulação e também a energia para as atividades do organismo. Ele também lembra dos benefícios morais proporcionados pelo ioga. "Gera gentileza, compreensão, bem-estar. É uma prática extremamente antidepressiva, que leva as pessoas a conviverem melhor com as outras." / A.G. e M.L.

Por Alexandre Gonçalves, Mariana Lenharo