StudioShantYoga

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

SABEDORIAS DA LENTIDÃO


Silvia Helena Alves de Oliveira


                                                               “Inteligente é quem outros conhece,
                                                                Sapiente é quem conhece a si mesmo.
                                                                Forte é quem outros vence,
                                                                Poderoso é quem domina a si próprio.”
                                                                                                     (Lao Tsé).
      Inicialmente, podemos observar no cotidiano da grande maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades, a tendência de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e fazê-las de forma acelerada. Com a tecnologia da comunicação instantânea e virtual, cultiva-se a pressa.
      Muitas vezes nos encontramos em situações que demandam rapidez, porém nos enganamos ao acreditar que para algo ser bem feito, temos de estar acelerados e tensos internamente. Essa se tornou uma cultura nos tempos modernos e exige de nós consciência. Esse modo de fazer as coisas é uma deformação. Tornada um hábito, ela adoece a todos cada vez mais.
      O yoga propõe a atenção ao momento presente e a conquista gradual do autoconhecimento do corpo, respiração, mente e espírito.  O que se traduz em respeito aos próprios limites e também aos limites do próximo. No Hatha Yoga notamos o ensino e cultivo desses conhecimentos em vários aspectos, como, por exemplo, durante os asanas (posições de yoga), pelos quais praticamos a permanência:
- na posição em si;
- na atitude de presença (estar por inteiro no aqui e agora);
- no respeito aos próprios limites, levando em consideração a sua história corporal, sem comparar-se com outros;
- na consciência da respiração etc.
      Devemos estar atentos ao nosso modo de encarar a nossa vida e consequentemente a prática de yoga. Se nos deixamos impregnar pela cultura da “correria”, vendo vantagem em ser apressado, podemos trazer esses valores para todos os âmbitos da vida. E isso sem nos dar conta, quando menos esperamos.
      Se olharmos à nossa volta, vamos enxergar essa “atitude apressada”, de disputa, competitividade e desrespeito em muitos momentos. No trânsito, no relacionamento com os demais no ambiente familiar, profissional, escolar etc. Na verdade, é bem fácil notar esses comportamentos na vida social, fora de nós.
     Se prestarmos mais atenção, veremos que nós mesmos agimos de acordo com o padrão da pressa. E como podemos tomar consciência dessas atitudes e agir de maneira mais saudável? As mudanças, para serem efetivas precisam começar individual e internamente.   
      O primeiro passo é reconhecer os próprios erros, as suas tendências e intenções. Depois, é preciso “brecar” a vontade invertida. Um caminho é a meditação, que, no Hatha Yoga, costuma vir depois de um preparo feito através de exercícios psicofísicos e respiratórios, que envolvem também o relaxamento. Ao meditar, o praticante procura um espaço entre os pensamentos, faz um esforço para não conversar com eles. Desse modo, evita que os pensamentos ganhem volume e, por assim dizer, tomem conta da cena interior. Dar atenção a uma coisa por vez exige esforço, assim como todas as atitudes que podem trazer benefícios. Não se iluda: fazer o bem (para si e o próximo) não flui naturalmente. É necessário esforçar-se.
     O treino ajuda muito. É possível treinar maneiras de se concentrar em uma atividade por vez, desfazendo o excesso de tensão interna. No processo de autoconhecimento, a consciência vem primeiro. Em seguida, vem a força de vontade. Na prática, o yoga oferece instrumentos que nos ajudam nesse desafio.

MEDITAÇÃO
                      “Coisas que nos parecem impossíveis, só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica”.
                                                                                           (Mahatma Gandhi )

      O Hatha Yoga oferece a meditação, uma excelente estratégia para treinar o “músculo da atenção”. Em geral, as técnicas meditativas são extremamente simples. Existem centenas delas, até mesmo as que devem ser realizadas em movimento. É desejável que o estado meditativo permeie a prática do yoga, como um todo, desde os preceitos éticos, os Yamas (disciplina externa) e os Nyamas (disciplina interna) até os asanas (exercícios psicofísicos) e os pranayamas (exercícios respiratórios), além do pratyahara (abstração dos sentidos) e do samyama (yoga mental). [Saiba mais sobre  Yamas e Nyamas acessando esse tema na postagem http://studioshantyoga.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=5].
 E podemos afirmar que essas técnicas são tudo, menos tediosas. Uma delas certamente se encaixa no seu perfil.
A meditação não é...
A meditação é...
...religião, filosofia, prática mística ou paranormal.
...uma prática que pode levar a estados alterados de consciência, produzindo efeitos de profundo relaxamento.
...uma atividade difícil, passiva e tediosa.
...uma prática que implica o uso de técnicas que, em geral, são extremamente simples.
...uma técnica para dormir.
...uma prática que traz, entre os seus benefícios, a melhora da qualidade do sono.
...uma atividade que traz desconforto.
...uma prática que, como qualquer outra, deve ser salutar e prazerosa. Se não for assim, devemos procurar outra atividade que seja melhor para nós.

      Se a meditação altera as ondas cerebrais, a química do sistema nervoso também é modificada, com consequências para todo o organismo. A ciência vem divulgando muitos artigos que comprovam os benefícios para a saúde humana decorrentes da prática meditativa. Entre os efeitos positivos da meditação, podemos citar:
      - Queda da pressão arterial em hipertensos e redução da dependência de drogas (West, 1979, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      - Alívio da dor crônica (Canndill et al., 1991, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      - Redução dos escores da ansiedade em 20 d0s 22 pacientes portadores de ansiedade estudados após 8 semanas de prática meditativa (Miller, 1995, citado por Cardoso, 2005, p. 109-121).
      Uma forma de permanecer nesse estado contemplativo de simplesmente estar presente é não conversar com os pensamentos, não dar continuidade a eles, encarando-os como nuvens que passam, sem apegar-se a nenhum deles. Nesse ponto, podemos notar que, entre tantos pensamentos indo e vindo, surge um espaço silencioso que não se mistura com eles.
      Se precisar de um pensamento de pano de fundo, pode escolher uma frase curta e de grande significado pessoal. Uma que gosto muito e sugiro é a frase do Professor Hermógenes: “Entrego, confio, aceito e agradeço.”
      Uma maneira de praticar meditação é sentando-se da maneira mais confortável possível, mantendo a coluna alinhada de forma natural. Pode ser num dos asanas tradicionais do Hatha Yoga, como por exemplo:
· Sukhâsana ou postura fácil:
Sente-se com as pernas unidas e esticadas. Utilizando as mãos, flexione a perna esquerda e leve o pé para baixo da perna direita. Em seguida flexione a outra perna e leve o pé direito para baixo da perna esquerda. Conserve o tronco na vertical.


· Padmâsana ou postura de lótus:
Sente-se com as pernas unidas e estendidas. Leve o peito do pé direito a pousar sobre a coxa esquerda, de forma que a sola do pé fique voltada para cima. Depois, faça o pé esquerdo pousar sobre a coxa direita. Ambos os joelhos tocam o solo e apontam para frente. Os calcanhares pressionam o abdômen logo acima da região pubiana.


· Varjrâsana ou pose do diamante:
Ajoelhe-se conservando os joelhos juntos e os pés esticados, de forma que a pernas se apoiem no solo. Os dedos dos pés ficam apontados para dentro e quase se tocam.
Sente-se sobre as pernas, mantendo a cabeça alinhada e a coluna ereta, sem rigidez.



      É importante estar na atitude interna que um asana propõe, isto é, firme e confortável. Se por qualquer motivo, não sentir estabilidade e conforto sentado na almofada sobre o chão, sente-se em uma cadeira, banco ou poltrona que lhe proporcione estar com a coluna alinhada, como diz a canção do Walter Franco “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.
      Concluindo, podemos perceber a realidade que nos cerca vem construindo seres desconexos e estressados e estes, por sua vez, formam uma sociedade apressada e doente. O yoga e suas práticas meditativas se apresentam como um excelente caminho para harmonizar a rapidez, que é uma virtude, com as sabedorias da lentidão, que podem ser vivenciadas na reconstrução de um ser humano mais lúcido. Assim, é possível administrar e perceber o vício da pressa e notar o preço que ela nos cobra ao nos impedir de desfrutar a felicidade que a vida é capaz de nos oferecer.

Referências bibliográficas disponíveis em:
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. De olho na saúde – O ABC da psicossomática trilógica. 1.ed. São Paulo : Proton Editora, 2007. p. 21, 67, 68

Pustilnick, Renato. Administração do estresse = qualidade de vida: dicas para uma vida saudável e produtiva. Curitiba : Ibpex, 2010. Biblioteca digital Centro Universitário Claretiano

<http://yogahermogenes.blogspot.com.br/search/label/Medita%C3%A7%C3%A3o%20Antidistresse> acesso em 07/06/2014



domingo, 9 de março de 2014

OS CINCO MOVIMENTOS DA COLUNA E SEUS BENEFÍCIOS

“Não sacrifique o instinto do corpo pela glória da postura.”
                                                                                                      Vanda Scaravelli


      Através da realização dos cinco movimentos que a coluna pode fazer adquirimos mais saúde, flexibilidade e autoconhecimento. Mas, para que o ganho seja real, consistente, esses movimentos devem realizados com atenção e, principalmente, com consciência. No Hatha Yoga, os cinco movimentos fazem parte de um amplo contexto, pelo qual buscamos o entendimento prático de como respirar, como pensar, como ajustar e alinhar-se nos asanas (posições). Sendo assim, a consciência precisa estar em cada movimento.

      Vamos então olhar mais de perto para cada um dos cinco movimentos:

Flexão da coluna. Nos exercícios que têm esse objetivo – a flexão da coluna –, nós inclinamos o tronco para frente ou aproximamos o tronco das coxas. Desse modo, alongamos os músculos posteriores do corpo. Veja, na figura a seguir, uma das posturas que realizam esse tipo de flexão.


Balasana
Posição da Criança, Posição do Embrião
bala = jovem, infantil, não totalmente desenvolvido



Extensão da coluna. Nesses exercícios, inclinamos o tronco para trás ou, simplesmente, distanciamos o tronco das coxas, para alongar os músculos anteriores do corpo. O exercício representado a seguir é um bom exemplo.


Bhujangasana
Posição da Cobra
bhuja = braço ou ombro + anga = membro

Inclinação lateral da coluna. Aqui, o corpo se inclina lateralmente com relação a seu eixo, alongando os músculos laterais. A figura a seguir ilustra a inclinação lateral.


Parivrtta Janu Sirsasana
Posição Inversa da Cabeça no Joelho
parivrtta = virar, rolar; janu = joelho; sirsa = tocar com a cabeça

Torção ou rotação da coluna. Com esses exercícios, o corpo gira em seu próprio eixo, alongando a maioria dos músculos do tronco. Veja o exemplo.


Ardha Matsyendrasana
Meia Posição do Rei dos Peixes
ardha = metade matsya = peixe indra = governante, rei

• Extensão axial. Através de um esforço interno, podemos realizar o quinto movimento da coluna, que busca reduzir, por meio da intenção e da postura, as curvaturas primárias e secundárias que sempre existem quando estamos displicentes. Com essa prática, é possível favorecer a ampliação do espaço entre as vértebras, alongando o comprimento total da coluna. Durante as aulas, para estimular o aprendizado desse movimento, costumo convidar os meus alunos a se lembrarem de um “fiozinho puxando no alto da cabeça”. E é isso mesmo. Imaginando com firmeza que temos um fio nos puxando para o alto, em linha reta, nós nos dedicamos com mais consciência ao esforço da extensão axial. É como se vencêssemos a força da gravidade. A fotografia a seguir mostra um exemplo de extensão axial, que podemos realizar mesmo quando estamos sentados.


Sukhasana
Posição Fácil
sukha = confortável, suave, agradável

      O quinto movimento da coluna merece especial atenção. Ele pode ser utilizado em variados momentos da prática de yoga. É assim quando nos sentamos para meditar e fazer exercícios respiratórios. Basta observar: tudo flui de forma mais favorável quando estamos com a consciência empenhada em manter a coluna alinhada. Se estamos conscientes do “fiozinho puxando no alto da cabeça” é possível descontrair as curvaturas normais da coluna e, desse modo, diminuir a chance de cansaço e de lesões e à estrutura do esqueleto. Ganhamos mais elasticidade.


      Outro segredo para sentar-se bem é colocar uma almofada ou um cobertor dobrado embaixo das nádegas. Esse recurso nos permite elevar a base da coluna, o que compensa a flexibilidade limitada e restaura a curvatura natural.



      Entendendo como realizar esses movimentos com a sua coluna, você poderá ter autonomia em sua prática de yoga e montar suas próprias sequências. Nesse momento, além dos cinco movimentos, leve em consideração outras posturas possíveis do corpo:  em pé, sentado, deitado ou as chamadas posições invertidas (quando as pernas ficam para o alto, acima da cabeça). Na imagem a seguir, podemos visualizar, além dos cinco movimentos, a representação de posições de equilíbrio, inversão, relaxamento e meditação (de manter a coluna sempre estendida, em linha reta).


      Com a prática é possível notar e “pontuar” combinações de vários movimentos da coluna em uma única posição, como na figura abaixo em que notamos os movimentos específicos da coluna vertebral de extensão neutra e rotação axial e visualizamos e principalmente ao praticar, vivenciamos, os movimentos de flexão, torção, latero-flexão, sem abrir mão da intenção (consciência) da extensão axial.


Parivrtta Trikonasana
Posição Invertida do Triângulo
parivrtta = virar-se, inverter; tri = três; kona = ângulo


      Conclusão
      Conhecer, entender e vivenciar os cinco movimentos que a coluna pode realizar facilitará sua autonomia na prática de yoga.
      As posições de flexão (curvar-se para frente) estimulam a digestão, aumentam a flexibilidade dorsal e acalmam o organismo.
      As posições de extensão (curvar-se para trás) promovem maior mobilidade e flexibilidade da coluna, pois, quando alongamos, expandimos a região torácica, o que é muito revigorante.
      As posições de torção ajudam na digestão, na eliminação de toxinas e tonificam a coluna vertebral.
      Quanto às posições invertidas, elas estimulam o sistema endócrino e melhoram a circulação.
     
      Por fim, é bom lembrar que as orientações que você encontrou neste breve texto não substituem um professor. O objetivo destas orientações é apenas esclarecer dúvidas e inspirar o aluno em sua prática pessoal. Conhecendo e entendendo, todos os praticantes de yoga avançam na conquista da autonomia e ganham mais consciência.
      O ideal é realizar, além dos cinco movimentos da coluna, as práticas completas, incluindo exercícios psicofísicos e respiratórios, além de relaxamento e técnicas de meditação e concentração.
      Embora o Hatha Yoga seja conhecido no Ocidente como yoga do corpo, deveríamos pensar nele como o yoga através do corpo, uma vez que, em sua visão holística, o Hatha Yoga propõe a integração dos aspectos internos (psíquico e espiritual) por meio do aprimoramento dos aspectos externos (físicos). Portanto, através do corpo como instrumento, podemos desenvolver as dimensões mais sutis da nossa vida. 

Referências bibliográficas:
SILVA, Gerson D’Addio da. Curso Básico de Yoga: teórico prático. 1 ed. São Paulo: Grecco e Mello, 2007. p.206, 207
MASSOLA, Maria Ester Azevedo. Vamos praticar yoga?: Yoga para crianças, pais e professores. São Paulo: Phorte, 2008. p.76, 77
KAMINOFF, Leslie. Anatomia da Yoga. Barueri, SP: Manole, 2008. p. 30, 31, 72, 83, 92, 100, 168
ANDERSON, Sandra; SOVIK, Rolf. Yoga: dominando os princípios básicos. São Paulo: Madras, 2013. p. 265, 266, 267 
<http://studioshantyoga.blogspot.com.br/2010/12/principios-para-composicao-de-uma-serie.html> acesso em 06/02/14
<http://www.yogapelapaz.com.br/blog/?p=1546> acesso em 16/02/14
<http://www.yoga.pro.br/artigos/911/2/como-montar-uma-serie-equilibrada-de-asanas> acesso em 16/02/14