StudioShantYoga

StudioShantYoga

terça-feira, 30 de julho de 2013

A CONSCIÊNCIA NA PRÁTICA DO YOGA

Silvia Helena Alves de Oliveira

“A consciência está ligada ao trabalho, à ação e à descontração. A alienação produz inércia, contração, angústia.” (Norberto Keppe) 
  

      Em primeiro lugar, lembremos que onde existe consciência existe vida. Esta consciência abrange os vários aspectos do ser humano, que podemos agrupar em três núcleos de atenção da nossa consciência. Embora tratemos os três separadamente, a fim de facilitar o ensino e aprendizado, eles interagem constantemente e englobam outros. São os seguintes: 
  • Consciência do corpo 
  • Consciência da respiração 
  • Consciência da mente 
Quando o praticante de Hatha Yoga está atento à vivência dos três, encontra facilidade em se desenvolver e progredir no caminho do autoconhecimento, que se manifesta no todo. 
Da mesma forma, a sistematização e o aprendizado do Yoga seguem vários passos, mas todos esses passos estão interligados, são inseparáveis. 
Yoga é  um sistema composto por oito partes (ou uma caminhada em oito grandes passos), que estão descritas no texto mais antigo conhecido sobre o assunto, Yoga-Sutras, que foi escrito pelo grande filósofo indiano do século VI a.C., conhecido por Patânjali. 
Eis as oito partes de que nos fala Patânjali: 
      1- Aprender a viver em harmonia com os outros (yama); 
      2- Manter o corpo, a mente e o espírito saudáveis e felizes (niyama); 
      3- Praticar posturas físicas para fortalecer o corpo (âsana); 
      4- Respirar corretamente para fazer fluir a energia (prânâyâma); 
      5- Concentrar nossas forças mentais no interior do ser (pratyâhâra); 
      6- Focalizar toda a atenção em determinado objeto (dhâranâ); 
      7- Repousar em meditação profunda e natural (dhyâna); 
      8- Unir-se ao infinito (samadhi). 
As oito partes atuam em todas as áreas de nossa vida – social, comportamental, ética, moral, física, emocional, mental e espiritual. Para compreender melhor como todas essas áreas se inter-relacionam, agem umas sobre as outras, vamos nos aprofundar um pouco no entendimento daquilo a que apresentamos, logo no início deste breve texto, como nos três grandes núcleos que merecem a atenção da nossa consciência. Comecemos pela consciência do corpo. 


   CONSCIÊNCIA NO CORPO   
  
     Na linguagem do Hatha Yoga, consciência do corpo (também poderíamos dizer a consciência no corpo) indica ajuste na posição (âsana). O praticante do Yoga encontra o ajuste na posição (âsana) quando seu corpo encontra conforto e equilíbrio na postura estável, sem contrações dolorosas, sem angústias. É por isso que se diz que, ao conquistar o âsana, o yogue assume com correção natural a posição que pretendia alcançar. Aí, é desejável trabalhar os aspectos sutis (que são os internos: mente, emoções, alma) através do aspecto grosseiro (o aspecto externo, ou seja, o corpo). 
Patânjali não descreve quais são as diferentes posições (os diferentes âsanas) do Yoga, apenas conceitua que um âsana é aquela posição que deve ser estável e confortável, contemplando o relaxamento do esforço. 
Com a devida observação, o praticante de Yoga percebe como o seu corpo está no espaço. Ele percebe isso como se olhasse para um espelho interno. Sempre respeitando os seus limites, ele observa seu mestre, mas sabe que o âsana é só seu, não deverá ser comparado ao de mais ninguém. Sabendo dissoele aprende como executar o âsana corretamente, pois ele aprende os métodos de entrada, manutenção e finalização da posição. 
Essa percepção é desenvolvida através da constância, da persistência na prática atenta. Com o tempo, o praticante vai ganhando autonomia e aprende a identificar os muitos efeitos que as variadas posições de Yoga trazem ao corpo, à respiração e à mente. Dessa forma, ele sente os benefícios da prática. 

CONSCIÊNCIA DA RESPIRAÇÃO 
Analisando o sistema de Yoga, compreendemos nesse ponto, que devemos conhecer a própria respiração, entender como ela funciona. Para isso, é preciso vivenciar as várias formas de respirar. O Yoga não diz que existe somente uma forma correta de respirar. Em vez disso, ele nos ensina como utilizar toda a capacidade respiratória, de quatro formas distintas: respiração baixa, média, alta ou completa. A prática nos traz o discernimento para distinguir qual forma é a melhor para determinado tempo, lugar e circunstância. Seja durante a prática de Hatha Yoga (por exemplo, durante uma aula), seja vivenciando o Yoga em outros momentos do dia a dia, a consciência da (ou na) respiração é essencial. 
Quanto mais controle temos da respiração, mais controle temos do corpo. A exigência em uma posição (âsana) interfere na respiração. E o que buscamos durante a prática é justamente inverter esse processo. Através da respiração relaxada é possível, por exemplo, permanecer em uma posição desafiadora, adaptando-se e entregando-se, desfazendo o esforço interno. 
Quando você se conscientiza de determinada região do corpo, pode intencionalmente levar mais oxigênio, ou, melhor, pode levar mais bioenergia do ar para esse local. Você pode fazer um teste. Experimente olhar para sua mão, então feche os olhos e continue percebendo, sentindo e visualizando-a internamente. Em pouco tempo poderá sentir o calor e a vibração que emana de sua mão. É só o começo. Através da consciência, você pode interferir no fisiológico, pode incrementar a circulação sanguínea e também interferir na fisiologia sutil, desbloqueando os canais de energia. Como já mencionado, tudo depende de empenho, dedicação e prática. 
O controle do alento (da respiração), denominado prânâyâma, é uma parte essencial, indispensável para o sucesso no Yoga. É básica. Ela serve de alicerce para o aprendizado de outras técnicas.  
[Saiba mais sobre prânâyâma acessando esse tema na postagem http://studioshantyoga.blogspot.com.br/2013/05/pranayama-respirar-profundamente.html]


CONSCIÊNCIA DA MENTE

A consciência da (ou na) mente pressupõe atenção no momento presente. Ela nos ensina a cultivar o estado de presença, a estar inteiramente no aqui e agora. Nosso ser é essencialmente tranquilo e sereno, mas o ser humano, com a inversão de percepção de mundo e consequentemente com a mente inquieta, propensa a flutuar de um pensamento a outro, encontra dificuldades para aquietar-se. Exatamente por isso, nYoga-Sûtra, livro I, verso 2, Patânjali  escreve que o Yoga é a cessação dos turbilhões da consciência (Yogas citta vrtti nirodhah).  
No decorrer dos oito passos (que são partes de um sistema, de um todo) propostos por Patânjali (enumerados na introdução deste texto), encontramos a abstração dos sentidos (pratyâhara). Falamos aqui de um estágio da prática em que os sentidos se retiram dos objetos. Em seguida, a concentração em sua real acepção (dhâranâ), estágio em que se dirige toda a atenção a um único foco, levo o praticante à meditação propriamente dita (dhyâna). Aí, brota a identificação com o que se escolheu como foco de concentração. 
Uma forma de permanecer nesse estado contemplativo de simplesmente estar presente é não conversar com os pensamentos, não dar continuidade a eles, encarando-os como nuvens que passam, sem apegar-se a nenhum deles. Nesse ponto, podemos notar que, entre tantos pensamentos indo e vindo, surge um espaço silencioso que não se mistura com eles. 
Perseverando em dhyâna, o praticante pode chegar ao último estágio da prática, denominado samadhi, quando se atinge a equanimidade da consciência e, com isso, a transcendência de sua condição ordinária, permitindo a absorção do que se escolheu observar. 
Concluindo, a prática de Hatha Yoga é feita com consciência no corpo (e do corpo)da mente (e na mente) da (ou narespiraçãoEm sua visão holística, o Yoga propõe a integração e aprimoramento dos aspectos internos (psíquico e espiritual) por meio de aspectos externos (que estão no físico). Através do corpo como instrumento, podemos desenvolver as dimensões mais sutis. 




Referências bibliográficas 
SILVA, Gerson D’Addio da. Curso Básico de Yoga: teórico prático. 1.ed. São Paulo: Grecco e Mello, 2007. p.165, 166  
SINGLETON, Mark. Yoga para você e seus filhos: um guia passo a passo para a prática prazerosa de yoga com crianças de todas as idades.  São Paulo : Editora Gente, 2004.  
ANDERSON, Sandra; SOVIK, Rolf. Yoga: dominando os princípios básicos. São Paulo : Madras, 2013. p. 33, 34, 78