StudioShantYoga

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PRINCÍPIOS PARA A COMPOSIÇÃO DE UMA SÉRIE DE YOGA

Material de Apoio – Aula do Prof. Marcos Rojo Rodrigues



PRINCÍPIOS PARA A COMPOSIÇÃO DE UMA SÉRIE DE YOGA

Agora vem as férias e boa parte das escolas e academias de yoga fecham por um período, mas, isto não significa que os praticantes devam ficar sem praticar. Existem coisas na vida que nunca tiramos férias, ou pelo menos não deveríamos tirar. Por exemplo: ninguém tira férias de hábitos higiênicos, do tipo escovar os dentes ou tomar banho. Assim, também não devemos nos afastar das práticas que são benéficas para nossa saúde, como caminhar, se exercitar e obviamente, fazer yoga.

Os conselhos que apresento em seguida, são os que normalmente passo para meus alunos e que para minha alegria, coincidem com as excelentes dicas que li recentemente, no artigo do professor Pedro Kupfer da edição de outubro de 2009, desta mesma revista.

Quanto à escolha do momento da prática.

Marque previamente os dias e o horário de sua prática. Não deixe para praticar quando sobrar “um tempinho”, você corre o risco de não praticar nunca. É como dinheiro, se você deixar para guardar na poupança o que sobrar, vai sempre ficar devendo, mas, se assim que receber seu salário, destinar parte dele para guardar, conseguirá ter uma reserva.

Seja modesto nas suas pretensões, se você não está acostumado a praticar sozinho, não estabeleça um programa de uma hora por dia, todos os dias da semana. Você pode começar bem e depois falhar um dia ou outro e isto, o levará a desistir logo. Comece agendando dois ou três dias da semana, meia hora, num horário que lhe pareça viável, sem atrapalhar a vida dos outros. Quando perceber que cumpre o que foi pré-estabelecido com facilidade, aumente mais um dia da semana ou mais 10 minutos na sua rotina. Lembre-se: “é mais interessante 20 minuto de prática todos os dias do que uma hora e meia, uma vez por semana”.

No começo praticamos porque alguém nos motiva, depois, praticamos porque se não o fizermos sentimos falta e por fim, praticamos porque temos prazer. É como tomar banho. Os pais brigam com os filhos pequenos pedindo que tomem banho; mais tarde, quando adolescentes, o pai fica na porta do banheiro implorando para o filho sair do banho porque está gastando muita água.

Assim que decidimos praticar por conta própria, ou seja, sem a condução de um professor, surge a segunda questão:

“O que devo fazer?”

Imediatamente parece que tudo o que aprendemos foge da nossa memória e não nos lembramos mais do que uma dúzia de exercícios. Na verdade, tudo está guardado na nossa cabeça, apenas não temos o hábito de ir buscar. É importante fazer o que você gosta e o que você precisa. Nem sempre, gostamos do que precisamos. Pense numa pessoa agitada, que se deita para fazer 5 minutos de relaxamento e compare-a com outra pessoa que é concentrada e silenciosa por natureza. Qual das duas precisa mais do relaxamento? Qual delas gosta mais de relaxar?

Fazer os exercícios que gostamos nos dá uma sensação de prazer na prática e isto nos motiva. Fazer o que precisamos, numa dose aceitável para não tornar a prática desagradável, até que um dia, o exercício difícil também fique fácil e prazeroso.

Existem algumas normas para a escolha das técnicas de yoga para compor uma série. Fazer pelo menos um de cada:

Flexão da coluna - exercícios onde inclinamos o tronco para frente ou aproximamos o tronco das coxas. Neles, alongamos os músculos posteriores do corpo.

Extensão da coluna – exercícios onde inclinamos o tronco para traz ou distanciamos o tronco das coxas. Neles, alongamos os músculos anteriores do corpo.

Inclinação lateral da coluna – exercícios onde o corpo se inclina lateralmente com relação a seu eixo, alongando os músculos laterais do corpo.

Torção ou rotação da coluna – exercícios onde o corpo gira em seu próprio eixo, alongando a maioria dos músculos do tronco.

Exercícios de fortalecimento da região abdominal – exercícios que para a sua realização exigem a ação da musculatura do abdome.

Exercícios de equilíbrio – exercícios que para sua realização colocam o corpo em situação de equilíbrio vulnerável. Como ficar num pé só, quando na posição em pé.

Posições invertidas – aquelas em que o quadril fica numa posição mais elevada do que a cabeça ou as pernas numa posição mais elevada do que o quadril.

Pranayamas – exercícios que tem como ponto principal a interferência no padrão rítmico respiratório. Devem ser feitos numa posição de meditação.

Meditação – técnicas que visam disciplinar a ação desordenada e excessiva dos pensamentos.

Tendo escolhido os exercícios, a questão seguinte para a composição da série é:

Qual é a seqüência adequada para as técnicas escolhidas?

Uma seqüência de exercícios de yoga, deve seguir princípios comuns às teorias de aprendizagem:
Preparação – a maioria de nossas atividades é precedida de uma preparação. Em yoga, o sentido de preparação não é sinônimo de aquecimento. Aquecimento é um termo importado da educação física, mas que tem outros conceitos. Alguém aquece o corpo como prepararação para movimentos explosivos, o que não é o caso da yoga, ou pelo menos não deveria ser. Nos preparamos para uma prática de yoga com um relaxamento ou recitando a sílaba “OM”, por exemplo. Caso na sua série tenha exercícios mais dinâmicos, inclua-os como preparatórios e deixe os mais estáticos para o final.

Complementação – exercícios que atuam na mesma região, mas em sentido contrário, devem ser considerados complementares. Após torcermos para um lado, faremos a mesma torção para o outro lado, mas nem sempre pensamos nisto no caso da flexão e extensão. Por exemplo: a postura da vela e peixe, são complementares, assim como também o são o arado e a cobra, por flexionarem e estenderem a mesma região. O sentido de complementação, não é o mesmo da compensação usado na educação física. Aqui, estamos falando da otimização do efeito dos exercícios. Pela suavidade e leveza com que os asanas devem ser praticados, a idéia da compensação não faz sentido. Lembre-se que estamos nos referindo à prática tradicional do yoga.

Posição inicial – como a prática de yoga prevê concentração, é interessante que o praticante não fique mudando o tempo todo de posição. Ou seja, se estiver em pé, se possível, faça todas as posturas em pé que você planejou, quando se deitar, faça as deitadas e assim por diante.

Desta forma, você terá escolhido previamente uma série que poderá ser repetida por um período. Não é aconselhável ficar mudando a série a cada dia. A repetição nos leva à perfeição. Isto é comum em todas as atividades de corpo. A dançarina treina o mesmo passo “mil” vezes, para executá-lo com leveza. O judoca repete o mesmo golpe “mil” vezes para acertá-lo na hora da competição. Não sei por que alguns acham que em yoga cada dia de prática tem que ser completamente diferente do outro. Rotina e monotonia não são inimigos dos que almejam meditação; enquanto que, a busca constante pela novidade e pelo inédito podem distrair o praticante”.



Tendo escolhido os exercícios e a ordem na qual deverão ser praticados, teremos que considerar uma última questão importante:

Os aspectos individuais da prática de Yoga:

Sem estes aspectos, a prática perde seu objetivo primordial de fazer do corpo uma estratégia para modificar o padrão mental. Lembre-se: “Yoga não é para o corpo, é através do corpo. Yoga não é para a mente, é alem da mente”.

Ritmo – Cada um deve executar os movimentos que o levam até a postura e o trazem de volta no seu próprio ritmo. Um não deve copiar o ritmo do outro. O ritmo varia de movimento para movimento, de pessoa para pessoa e de dia para dia. Em Yoga, o ritmo é a velocidade constante do início ao fim que se determina para um movimento, que possibilite controle e que seja agradável. No mínimo, o ritmo é um movimento observado. Por traz do ritmo, está a idéia de controle. O ritmo garante a qualidade da concentração durante a prática. Movimentos feitos com impulsos e solavancos distraem o praticante.

Amplitude - É a mobilidade (articular) associada à flexibilidade (muscular) que permite ao praticante movimentar-se até determinados limites. Em Yoga a amplitude não é o máximo possível, mas é o máximo confortável. Talvez uns 85% do máximo possível. Cada um deve executar os movimentos na sua amplitude sem ter uma referência externa, ou seja, o padrão de execução é interno. O que deve orientar o praticante com relação à amplitude é uma sensação. Numa aula em grupo, independentemente do limite, todos devem ter a mesma sensação. Por traz da amplitude está a idéia de reconhecimento de limites, de verdade e de auto-conhecimento.

Permanência – É mais do que a simples capacidade de se manter no asana (postura). Permanência é um estado de presença. Estar presente significa estar consciente da maior quantidade possível de informações que chegam ao sistema nervoso central naquele momento. Manter-se na postura pensando no que vai fazer mais tarde ou se lembrando do que lhe aconteceu ontem, é ausência. Os que não conhecem Yoga, podem confundir o estado de presença com um estado de ausência, achando que no momento em que o praticante se encontra imóvel numa determinada postura, que no seu silêncio, ele está fora, mas nunca esteve tão dentro.

Descanso – É o tempo necessário entre uma técnica e outra, onde praticante observa o efeito do que foi realizado. Não é simplesmente para descansar, é o momento em que escutamos. Neste diálogo entre o corpo e a mente, durante a execução do exercício nós “falamos” e durante o descanso, nós “ouvimos”. Por traz da idéia do descanso, está a manutenção da capacidade de se perceber. Hoje em dia nós falamos muito e ouvimos pouco. Temos que desenvolver a observação passiva.

Série – Com o tempo, cada um vai reconhecendo o efeito das técnicas em si mesmo, desenvolvendo a capacidade de aplicá-las às suas necessidades do momento. Não faz sentido para um praticante antigo, que alguém lhe diga o quanto deve ficar numa postura, ou mesmo, quais as posturas que ele deve fazer naquele dia. O corpo nos diz se precisamos mais de relaxamento, mais de alongamento posterior ou anterior, basta que cada um saiba perceber.

Boa prática e boas férias.

IMPORTANTE: Todo material ou outros direitos de propriedade intelectual mencionados neste post pertencem ao Prof. Marcos Rojo Rodrigues, sendo todos os direitos reservados. É permitida a reprodução para uso pessoal, porém o usuário não poderá distribuir, modificar, transmitir, reutilizar ou usar o conteúdo deste site para propostas públicas e/ou comerciais, incluindo textos, imagens.


Obrigada!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

AS RELAÇÕES ENTRE YOGA, SAÚDE DA COLUNA E ABDÔMEN FIRME.

Por paradoxal que isso possa ser, a qualidade de vida não é o verdadeiro objetivo da prática. “O yoga não foi desenvolvido para um público que procurava apenas saúde ou bem-estar”, explica o médico César Deveza. Segundo ele, os antigos yogues que viviam em florestas e cavernas tinham uma meta muito mais alta: transcender a existência humana. “A saúde era mera consequência.” A respiração dos yogues, segundo Deveza, precisava ser perfeita. Seus movimentos musculares, livres de contraturas. E o pensamento tinha que estar totalmente sob seu controle. Ou seja: o que a experiência dos yogues indianos deixa transparecer, assim como o que sempre se afirma nos principais textos desse sistema, é que os exercícios práticos servem mesmo é como preparação à meditação.
Segundo toda a compreensão do yoga clássico e de seus principais tratados, mais importante do que os estímulos físicos é a atenção do praticante ao que está acontecendo com seu corpo. Isso faria diminuir o foco excessivo que os ocidentais costumam ter nos processos mentais. Ora, mas quem puxa ferro em uma academia também não está movendo sua atenção para o corpo? “Sim, mas a ginástica trabalha tensões. O yoga, distensões”, observa Deveza.


 As aulas de ioga podem ajudar na definição do abdômen. Embora não seja a meta do yoga, pode ser uma consequência. Além das técnicas respiratórias que promovem o trabalho dos músculos abdominais profundos, inúmeras posições da prática solicitam fortemente o trabalho abdominal para a estabilização dos movimentos, contribuindo para o fortalecimento da parede abdominal.
Trabalhar a região da barriga é fundamental para auxiliar na sustentação do corpo. Por isso, em uma determinada postura, se o músculo abdominal não estiver enrijecido, a coluna pode dobrar mais do que o corpo permite, o que prejudica a coluna e toda a estrutura óssea.
Vários aspectos pertencentes ao universo do hatha yoga podem promover um abdômen firme, tais como:


Controle da respiração
Os exercícios respiratórios, ou os pranayamas, têm como principal foco a interferência nos impulsos que determinam o ritmo da respiração, levando o praticante a respirar cada vez menos, mas sem que isto provoque falta de ar. É uma eficiente técnica de meditação, dizem os textos de Yoga. Como não podemos interferir diretamente no controle da atividade da mente, devemos interferir no controle do ritmo respiratório, porque estão intimamente ligados.
“É importante, no entanto, ter a consciência de que existe hora certa para o trabalho respiratório”, enfatiza Deveza, que pesquisa técnicas de respiração no Laboratório de Fisiologia Integrada e Sono, no Incor. Forçar a lentificação da inspiração e da expiração pode ser bem aflitivo — ainda mais em um momento estressante ou em um ambiente que exige atenção. “Cada situação pede uma maneira diferente de respirar, e o corpo dá conta dessas mudanças naturalmente”, resume o educador físico e professor de ioga Marcos Rojo, da Universidade de São Paulo.
Para aprender exercícios específicos, a orientação de um especialista é sempre indispensável: existem diversos métodos que modulam a ventilação dos pulmões por meio de estímulos diferentes. Na ioga, por exemplo, que não tem a respiração como um fim em si, mas como uma ferramenta inerente à sua prática, valoriza-se a pausa e o prolongamento da expiração.
Quando o corpo respira de maneira adequada, até as costas saem ganhando. “O encurtamento do diafragma pode sobrecarregar a coluna”, alerta Rojo. É que esse músculo está ligado às vértebras cervicais e lombares. Daí, quando não trabalha direito, elas acabam prejudicadas. Por isso é tão importante fortalecê- lo e torná-lo eficiente como um bom elástico: forte e flexível.
O controle da respiração durante a realização de outros exercícios físicos tem como principal objetivo a estabilização do movimento. Por isso, a respiração em si não traz modificações na estética e no fortalecimento da parede abdominal. No entanto, para um indivíduo destreinado, esse estímulo pode ser suficiente para obter pequenas, mas significativas melhorias nesses músculos, como a diminuição da flacidez.


Boa postura
Ela é fundamental para eliminar a barriga. A postura inadequada pode ocorrer por um desequilíbrio muscular, evidenciado pela fraqueza da parede abdominal e pelo encurtamento da musculatura vertebral lombar e flexores do quadril. Associado a esse quadro, observa-se aumento da lordose lombar, causa frequente de quadros de lombalgia. Por isso, o fortalecimento e o alongamento das musculaturas favorecem a manutenção ou a melhora do alinhamento postural.
Um estudo da Universidade de West Virginia, nos Estados Unidos, acaba de mostrar que o método presta um enorme serviço à região lombar. De 90 portadores de lombalgia recrutados para o trabalho, aqueles que se dedicaram à ioga duas vezes por semana durante seis meses relataram a remissão da dor. De onde vem a melhora? "A ioga diminui o estresse, relaxa os músculos tensos e fortalece os flácidos, além de restabelecer a postura", responde Rojo. É um antídoto para conter ou prevenir acessos de dor. A quem sofre do problema, o conselho é optar pelas linhas mais tradicionais. "Elas são as que mais favorecem o relaxamento, a postura e a concentração por meio de exercícios leves que respeitam as limitações de cada um", diz Rojo.


Alongamento
Apesar de não atuar de forma significativa na diminuição da porcentagem de gordura ou no fortalecimento abdominal, o alongamento presente no yoga pode auxiliar na melhora da definição muscular. Isso porque esses movimentos promovem o equilíbrio postural, fator extremamente importante também para a estética.

Retenções e Contrações
Os chamados bandhas (retenções e contrações, sobretudo musculares) que a médica Maria Auxiliadora Craice, do Hospital Heliópolis, em São Paulo, recomenda a seus pacientes, produzem, segundo ela, pressões negativas onde, em geral, se têm pressões positivas. O uddiyana-bhanda, por exemplo, consiste em massagear os órgãos internos, com uma espécie de sucção. Na sua execução, pressiona-se a parede abdominal contra a coluna vertebral, elevando o diafragma.
Kuvalayananda (1924) demonstrou no primeiro estudo científico de uma técnica de Yoga que o Uddiyana reduz muito a pressão intestinal. Os efeitos mecânicos desta redução podem incluir melhora da drenagem dos tecidos e alongamento dos órgãos abdominais.

Referências Bibliográficas disponíveis em:
SILVA, Gerson D’Addio da. Curso Básico de Yoga: teórico prático. 1 ed. São Paulo: Grecco e Mello, 2007. p.254